sábado, 17 de dezembro de 2011

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

A fe é que nos Salva!!

Voz amiga, diz-me de longe:”escreve!”,lembra-me a obrigação de aqui debitar qualquer coisa para manter vivo este blog carinhosamente construído.
A “obrigação” é boa, é soft , não me desagrada; escrever é arte,que gostaria de ter apurado , trabalhado a longo da vida; Perdi-me, quiçá, em coisas de menor importância. Verdade seja dita que, a uma mulher com filhos e uma casa para governar e cuidar , para alem do emprego, dedicar-se, a mais qualquer coisa que não seja a simples leitura do livrinho permanente ,revistas e jornais que a mantêm actualizada, é praticamente impossível.
Bem entendido que não posso manter a empregada, que me dava um jeitão, como dá a qualquer mulher, mas de que prescindi, por manifesta necessidade de cortes radicais, no acessório.
Não quero falar da crise. Abomino ,já, esta palavra ,como abomino aqueles que, enquanto estiveram no governo, nada fizeram para a impedir e que vêm agora, dar opinião, invadir a minha casa e o meu sossego humilde, com conselhos “sábios” de como cortar na despesa, ou então, criticar abertamente o governo actual sem se lembrarem , que enquanto la estiveram, não abdicaram de todas as mordomias inerentes ao seu cargo e que se limitaram, apenas, a ser mais um lobo no meio da matilha. Salvam-se raríssimas e virtuosas excepções e, como sei que sabem, que eu sei quem são, nem me dou ao trabalho de me desculpar pelo aparente varrer impiedoso.
Ja o disse mais vezes, mas nunca é demais repetir: Não tenho partido politico. Mas, para mim, independentemente da cor, os casos gravíssimos e vergonhosos que todos conhecemos de corrupção, de roubo descarado, de gatunagem e mentira, não digo que deveriam ser julgados em praça pública por tal ser primário,quase medievo, mas que, deveria haver penas agravadas, isso devia! São pessoas em quem o povo português, todos nós acreditamos, senhores, pessoas que tiveram o nosso voto, porque juraram cumprir determinado programa e que à sorrelfa, se encheram, se aproveitaram da sua posição enquanto eram soberanamente pagos com os nossos impostos.
Logo, crise, crise é isto mesmo . É o dinheiro escassear cada vez mais, também, o desemprego, a crescer assustadoramente. Mas, a crise tem um fundamento muito mais grave. Assenta numa podridão sem fim, que vejo continuar, crescer e passar impune.

Depois, Novembro é um mês triste. Porque foi sucedâneo de um Outubro triste e tumultuoso e porque precede um Dezembro de pobreza maior.
E , não posso deixar de me lembrar de situações piores que a minha.
E não podendo fazer mais nada, resta-me encolher-me tristemente, e esperar que um milagre aconteça, por ser uma mulher de fé.
E, positiva , apesar de tudo.

Eulália

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Mais uns poemas meus

Luz

Repetidamente,
Os olhos se me afundam
Na cinza das manhãs
Que foram alvoradas
De noites vazias;

A boca?Ah! a boca,
Que foi de romã,
Cerejas maduras,
De sedas,
de sangue,
a semear nos homens,
a urgência do beijo…
Que é dela??
E, sobre os ombros, frágeis,
Estende-se uma luz,
Que esmaece
E definha.

E tu,
Meu poeta,
De noites brancas , insones,
Acenas de longe
E dizes, ciciadas,
Palavras de amor.
Onde sou princesa.
Onde sou rainha.
E os poemas que fiz antes,
Já não têm valor…
Lancei-os , a esmo,
Ao vento, ao azul,
Quiçá na esperança,
Que um dia os lesses.

Hoje,
É para ti, que escrevo.

Apenas para ti!
A adivinhar-te os olhos,
Tranquilos ,serenos,
A sorrir, a sorrir..
Porque afinal tu és tudo isso:
O sorriso-bondade,
A leveza da seda,
O canto de um pássaro,
Um aroma a sândalo,
Rico, caríssimo,
no tracejado de um corpo,
rarefeito nos longes
da distancia física.

E então, concluo que,
se precisa das sombras,
para bem definir
o brilho,
da luz.

30/06/2011


Corro para ti

Vou a correr, alucinada, p’rós teus braços
Como a cumprir uma tarefa derradeira
Como quem se perde e se encontra nos seus passos,
Como quem ‘squece, e vira as costas à terra inteira!!

Corro como quem renasce, depois de, velhinha,
Pôr velas e saudades ,nos olhos a arder!!!
Como quem, de súbito, recupera o ver,
Depois de anos e anos ter sido ceguinha…

Corro p’ra ti , amor, com braçados de lírios
Nas mãos perfumadas de feno, há cansaços,
Memórias de uma cruz, lancinantes martírios…

E os nossos corpos que ardem como círios
Ficam, então, finalmente, exaustos e lassos,
Quando, no teu peito, desaguam meus delírios…

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Às mãos cálidas e saudosas da minha mãe

Ó mãos tao velhinhas da minha doce mãe
Que eu ,embevecida, conservo na memória!
Serao para sempre meus elmos de vitoria
Duas velas acesas, a alumiar mais além...

Mansas nuito mansas, duas asas que adejam,
Lá longe, no Infinito, num sitio qualquer..
São descoradas folhas do Livro do Saber
Soluços abafados,olhos que marejam...

São humildes preces que te fiz muito em segredo
Se soltam da minha boca e voam, etéreas
Em direcçao a ti, eterno Anjo Redentor!

São açucenas que brotaram num lajedo...
Marfins já dourados das estatuas funéreas
Que aqueço com beijos, repletos de amor!!

15/06/2011

E.G.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Que somos???

Somos a
Polpa madura
Dos frutos,
À mistura com
A devastação da cal.
O impulso primordial
Da sede
Casado à negação
Iniciática
Do alimento.
O traço rectilíneo
Da luz,
Que se inscreve
No claustro do palato.

1/06/2011

sexta-feira, 20 de maio de 2011

sem ti

E aqui me deixaste tu,
De olhos parados
nas corolas das flores.
Com as mãos lassas
Na seda dos lençóis
A mordiscar, ausente,
Os caules frágeis.

a respiração magoada
e nos olhos oblíquos
o brilho que fenece.

19/04/2011

segunda-feira, 16 de maio de 2011

De Florbela Espanca

VERSOS

Versos! Versos! Sei lá o que são versos…
Pedaços de sorriso, branca espuma,
Gargalhadas de luz. cantos dispersos,
Ou pétalas que caem uma a uma.

Versos!… Sei lá! Um verso é teu olhar,
Um verso é teu sorriso e os de Dante
Eram o seu amor a soluçar
Aos pés da sua estremecida amante!

Meus versos!… Sei eu lá também que são…
Sei lá! Sei lá!… Meu pobre coração
Partido em mil pedaços são talvez…

Versos! Versos! Sei lá o que são versos..
Meus soluços de dor que andam dispersos
Por este grande amor em que não crês!…

Florbela Espanca - Trocando olhares - 29/07/1916

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Almoço dos Antigos Alunos do Liceu de Bragança

Iam chegando aos poucos, alguns vindos de longe. Nas caras, onde o tempo lavrara já uns sulcos fininhos, brilhavam agora uns olhos que perderam, há muito o brilho de outrora, na alegria ansiosa de rever amigos de juventude.
Traziam, todos, embrulhos de ternura imensa, nas mãos inquietas; Os corpos, como os troncos das árvores, que vemos crescer, afoitas, na esperança dos dias, foram cedendo, ganhando dimensão, curvando com o tempo;
E nos cabelos, sobretudo dos homens, havia a brancura nostálgica, das toalhas de linho coradas ao sol.
As bocas, que soltaram insones palavras e risos e tiveram o viço orvalhado das rosas que se abrem na manhã, tinham agora uns sulcos curvos que lhes descaía ligeiramente as comissuras dos lábios….
Mas assim mesmo, riam, riam, alegremente riam.
E os abraços esses eram apertados , verdadeiros , calorosos! E um frémito perpassava, insubmisso e transversal, ondulando (in) visível pelo espaço que ocupavam.
Não havia nadas, não havia porquês; era tudo claro, transparente , autentico e completo.
Ontem o que foram, foram. Hoje é o que são. Vitoriosos, porque vivos. Eternos ,porque envoltos numa memoria liquida e olorosa que os torna incólumes,apesar dos anos.

Eulália Gonçalves

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Soneto de Joaquim Pessoa

Não foi Guevara, mãe, quem te rasgou
Com os punhais do frio pela manhã.
Foi quando eu te feri que um cão ladrou.
Das rosas veio um cheiro a hortelã!
.

Nos mastros adejavam as gaivotas.
Era Fevereiro. E a noite um pesadelo.
Da chuva que caía algumas gotas
Quiseram repousar no teu cabelo.
.

E eu nasci. No quarto ninguém estava.
À porta só a chuva é que teimava
Em molhar os lençóis da tua cama.
.

Não foi Guevara, mãe, quem tu pariste
Foi um grito do povo azul e triste
Na noite em que chorei luas de lama.

*

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Para quem estiver apaixonado...

..Tira-me a luz dos olhos - continuarei a ver-te
Tapa-me os ouvidos - continuarei a ouvir-te
E, mesmo sem pés, posso caminhar para ti
E, mesmo sem boca, posso chamar por ti.
Arranca-me os braços e tocar-te-ei com o meu coração como se fora com as mãos...
Despedaça-me o coração - e o meu cérebro baterá
E, mesmo que faças do meu cérebro uma fogueira,
Continuarei a trazer-te no meu sangue..."


R.M Rilke

segunda-feira, 2 de maio de 2011

A paz ou a guerra?


No dia em que se respira de alivio com o desaparecimento de Bin Laden(Deus que me perdoe mas eu respiro) será que vamos ver a pomba branca da paz ou vão acirrar-se muito mais as ofensivas da organização que chefiava??

segunda-feira, 25 de abril de 2011

17 anos

Olha-se para uma fotografia antiga, que o tempo amareleceu e o que nos vem à cabeça??
Os anos perdidos( ou ganhos) , as asneiras feitas, os amores vividos, os passos dados, a obra realizada ...Sim, todos, mais ou menos, afinamos neste particular pelo mesmo diapasão.A saudade roí as entranhas, a melancolia instala-se se não temos cautela.
Por que se diz que não devemos olhar para o passado? É no passado que reside a nossa certeza pois o futuro é o desconhecido.É la, nessa gaveta dourada, que temos tudo o que fez de nos o que somos hoje. E por que não abri-la??Solta-se leve, uma"enfleurage-mix" de sandalo, bergamota e âmbar...
Nao se resiste!!

cerrar as portas de Abril??

De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
um menino que sorriu
uma porta que se abrisse
um fruto que se expandiu
um pão que se repartisse
um capitão que seguiu
o que a história lhe predisse
e entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo que levantava
sobre um rio de pobreza
a bandeira em que ondulava
a sua própria grandeza!
De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
e só nos faltava agora
que este Abril não se cumprisse.
Só nos faltava que os cães
viessem ferrar o dente
na carne dos capitães
que se arriscaram na frente.

Na frente de todos nós
povo soberano e total
que ao mesmo tempo é a voz
e o braço de Portugal.

Ouvi banqueiros fascistas
agiotas do lazer
latifundiários machistas
balofos verbos de encher
e outras coisas em istas
que não cabe dizer aqui
que aos capitães progressistas
o povo deu o poder!
E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe!
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu!



Ary dos Santos

Ei-lo!Um dos sonetos de Antero que eu mais gosto.Espero que gostem ..

Na mão de Deus, na sua mão direita,

Descansou afinal meu coração.

Do palácio encantado da Ilusão

Desci a passo e passo a escada estreita.


Como as flores mortais, com que se enfeita

A ignorância infantil, despojo vão,

Depus do Ideal e da Paixão

A forma transitória e imperfeita.


Como criança. em lôbrega jornada,

Que a mãe leva ao colo agasalhada

E atravessa, sorrindo vagamente,


Selvas, mares, areias do deserto...

Dorme o teu sono, coração liberto,

Dorme na não de Deus eternamente!

Antero de Quental

Rumo ao Sul

Como as andorinhas
Hei-de partir um dia,
Talvez, rumo ao Sul.
.
.
Esse Sul, de paredes
Violentamente caiadas,
Onde a luz dói, o corpo arde
E a Eternidade é liquida e azul.
.
.
Algures, à sombra doce das acácias
Ou sob a luz branca das estrelas,
Ainda hei-de ser feliz!!!
.
.
Sem grilhetas ou mordaças;
Sequer a espora do desejo
A cravar-se, fundo, na carne.
.
Livre!! Feita onda ou ave.

Clarice Silvestre

domingo, 24 de abril de 2011

Boca de ressurreição

As tuas palavras
Provocam-me estremecimentos,
Ó meu poeta, de noites viúvas
E de auroras carregadas de madrigais.

Na tua boca,
Com hálito de jasmins,
Há o repicar festivo
Dos sinos da minha aldeia,
Frescura de rosas orvalhadas
E a serenidade dos lagos.


Boca de ressurreição,
Donde as palavras se soltam mansas
Como andorinhas dos beirais


Nela, eu descubro as minhas próprias palavras
Que, às minhas mãos,
morreram trucidadas,
Selvaticamente, num estertor de ais.


Clarice Silvestre

Os mais recentes -Pastel e aguarela e pastel


sábado, 23 de abril de 2011

Sarah Brightman - ANDREA BOCCELLI - TIME TO SAY - LEGENDADO

Silencio

Apenas um adejar de asas
Quebra por um momento
O silêncio de mármore
Inteiro e denso.
Apenas nesse momento,
O alivio do sol.
Que cai a prumo
na pele sofrida.
Apenas nesse curto momento,
A garganta se atreve
A uma nota musical
Que vibra solta
Em reverberações de luz.
Por um momento
As minhas veias azuis
Deixam de parecer rotas
De um atlas
Percorrido..

Depois, outra vez o silencio.
Um silencio liquido e salgado,
Que agrilhoa e esmaga.
E vindo de todos os lados
Surges-me, intenso, tu.

Senhor da minha vida.
Omnipotente,
Na tua missão de carrasco...


Clarice Silvestre

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Nossa Senhora- De Jose Regio

Acordei hoje, a silabar este poema belíssimo, que conheço desde os meus 15 ou 16 anos,porque inserida na "Selecta Literária", o meu manual de português, então.
Na altura,não havia "semanadas" e eu tinha apenas o que os meus pais, pessoas humildes, me podiam dar.Daí que li livros e livros da Biblioteca Itinerante Calouste Gulbenkian,pedia emprestado qualquer livro que visse na casa dos amigos e devorei a minha Selecta Literária. Alias conservei-a durante montes de anos, tamanho era o vinculo que criei com esse pesado e gordo livro.
Foi nele que conheci os mais belos poemas dos nossos maiores poetas.Foi aí que li este, do José Régio, que deixou uma marca tão profunda em mim que um dia me aventurei a meter as mãos em barro e a moldar uma nossa senhora por não poder ter uma que fosse de madeira..A minha Nossa Senhora , tinha uma ar angelical de frente mas de lado tinha um perfil de bruxa, e carregava ao colo um Menino Jesus com um rosto absolutamente , de símio, que eu, matreiramente, tentei disfarçar colocando-o sob o manto da Mae!!
Hoje já desisti de ter a minha Nossa senhora. Mas sei o poema de cor e salteado. Deixo-o aqui, para quem conhece e não conhece. Uma delicia!!
Para a próxima será a vez de Antero.
Vá la , leiam!!


Nossa Senhora


Tenho ao cimo da escada, de maneira
Que logo, entrando, os olhos me dão nela,
Uma Nossa Senhora de madeira,
Arrancada a um Calvário de Capela.

Põe as mãos com fervor e angústia.
O manto cobre-lhe a testa, os ombros, cai composto;
E uma expressão de febre e espanto
Quase lhe afeia o fino rosto.

Mãe de Deus, seus olhos enevoados
Olham, chorosos, fixos, muito além ...
E eu, ao passar, detenho os passos apressados,
Peço-lhe – “A Sua bênção, Mãe !”

Sim, fazemo-nos boa companhia
E não me assusta a Sua dor: quase me apraz
O Filho dessa Mãe nunca mais morre. Aleluia !
Só isto bastaria a me dar paz.

- “Porque choras, Mulher ?” – docemente a repreendo.
Mas à minh’alma, então, chega de longe a sua voz
Que eu bem entendo: -“Não é por Ele” ...
“Eu sei ! Teus filhos somos nós”.

José Régio

segunda-feira, 11 de abril de 2011

do Livro "Amar a Vida Inteira"a publicar brevemente

Amo-te. Basta-me um pássaro,
uma árvore
para me transportar ao jardim
de ti — um livro, uma palavra, o peso
do silêncio
para me levarem ao poço de ti,
aos teus olhos que ofuscam
o cristal da manhã; à tua boca
aproximando-se da minha pele
como se regressasse a casa.
Cantar-te é desfazer o nevoeiro da minha vida,
desfiar uma chama, ardendo lenta,
que não se via. E basta-me um vinho
ou a tua língua,
ou a memória dela
para que em mim disparem águas
trémulas — ainda são — e por isso
quando te amo
sou um pouco essa montanha que tece com o vento
uma combustão muito lenta muito paciente
como se todo o fulgor da vida
se concentrasse nos vales e nos rios do teu corpo.


Casimiro de Brito

domingo, 10 de abril de 2011

mais poesia

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco

Mário Cesariny

terça-feira, 5 de abril de 2011

Os cavalos de Tarquinia

Pode ser ! Ou nao!!

Nao deixe o amor passar. Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns segundos, preste atenção: pode ser a pessoa mais importante da sua vida. Se os olhares se cruzarem e neste momento, houver o mesmo brilho intenso entre eles, fique alerta: pode ser a pessoa que você está esperando desde o dia em que nasceu.
Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Como se fosse uma carta...

Minha doce mãe costumava dizer-me, depois de uma noite de insónia: Como não dormia pus-me a fazer cartas!
Eu não escrevo cartas, para vencer qualquer insónia: quando muito o que eu desejo será um pouco de tranquilidade , um serenar este coração em bulício, adormecer, talvez, ainda que muito pouco, este cérebro que te memorizou os poros ,que te sabe de cor as inflexões da voz, que insiste em me trazer vivo o sabor das tua boca, e o brilho intenso dos teus olhos pagãos.
Não te sei dizer, não, não sei, as vezes que vens,durante o dia, insinuar-te no meu mundo,num tropel de imagens e palavras,como se de uma obsessão se tratasse e,sem que, aparentemente,eu lhe consiga a cura.
Apesar dos pedidos que faço às aves de Abril, e ao vento sul!!
Pelo menos fica a esperança pois o vento parece dizer num sopro brando :Ha-de passar...ha-de passar...ha-de passar.
E eu,sem crer muito , digo :Ha-de!!!

quarta-feira, 16 de março de 2011

Poesia de Fernando Pessoa e seus heteronimos

Se penso mais que um momento

Se penso mais que um momento
Na vida que eis a passar,
Sou para o meu pensamento
Um cadáver a esperar.

Dentro em breve (poucos anos
é quanto vive quem vive),
Eu, anseios e enganos,
Eu, quanto tive ou não tive,

Deixarei de ser visível
Na terra onde dá o Sol,
E, ou desfeito e insensível,
Ou ébrio de outro arrebol,

Terei perdido, suponho,
O contacto quente e humano
Com a terra, com o sonho,
Com mes a mes e ano a ano.

Por mais que o Sol doire a face
Dos dias, o espaço mudo
Lembra-nos que isso é disfarce
E que é a noite que é tudo.

Fernando Pessoa



Poema em linha recta

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondívelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cómico criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado,
Para fora da possibilidade do soco;
Eu que tenho sofrido a angustia das pequenas coisas ridículas,
Eu que verifico que não tenho par nisto neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo,
Nunca teve um acto ridículo, nunca sofreu um enxovalho,
Nunca foi senão - príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana,
Quem confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Não, são todo o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde há gente no mundo?

Então só eu que é vil e erróneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil, no sentido mesquinho e infame da vileza.

Álvaro de Campos



Poema

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas).

Álvaro de Campos



Liberdade

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.

O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que esta indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, musica, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...


Fernando Pessoa




Cansa ser, sentir dói, pensar destruir.

Cansa ser, sentir dói, pensar destruir.
Alheia a nós, em nós e fora,
Rui a hora, e tudo nela rui.
Inutilmente a alma o chora. De que serve ? O que é que tem que servir ?
Pálido esboço leve
Do sol de inverno sobre meu leito a sorrir...
Vago sussuro breve.
Das pequenas vozes com que a manhã acorda,
Da fútil promessa do dia,
Morta ao nascer, na 'sperança longínqua e absurda
Em que a alma se fia.

Fernando Pessoa

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Fernando Pessoa,

Cansa ser, sentir dói, pensar destruir.
 
 Cansa ser, sentir dói, pensar destruir.
Alheia a nós, em nós e fora,
Rui a hora, e tudo nela rui.
Inutilmente a alma o chora. De que serve ? O que é que tem que servir ?
Pálido esboço leve
Do sol de inverno sobre meu leito a sorrir...
Vago sussuro breve.
Das pequenas vozes com que a manhã acorda,
Da fútil promessa do dia,
Morta ao nascer, na 'sperança longínqua e absurda
Em que a alma se fia. 

Miguel Torga

Mãe:
Que desgraça na vida aconteceu,
Que ficaste insensível e gelada?
Que todo o teu perfil se endureceu
Numa linha severa e desenhada?

Como as estátuas, que são gente nossa
Cansada de palavras e ternura,
Assim tu me pareces no teu leito.
Presença cinzelada em pedra dura,
Que não tem coração dentro do peito.

Chamo aos gritos por ti — não me respondes.
Beijo-te as mãos e o rosto — sinto frio.
Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes
Por detrás do terror deste vazio.

Mãe:
Abre os olhos ao menos, diz que sim!
Diz que me vês ainda, que me queres.
Que és a eterna mulher entre as mulheres.
Que nem a morte te afastou de mim!

Miguel Torga, in 'Diário IV'


Súplica

Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

De Mª Teresa Horta

Poema sobre a recusa


Como é possível perder-te

sem nunca te ter achado

nem na polpa dos meus dedos

se ter formado o afago

sem termos sido a cidade

nem termos rasgado pedras

sem descobrirmos a cor

nem o interior da erva.



Como é possível perder-te

sem nunca te ter achado

minha raiva de ternura

meu ódio de conhecer-te

minha alegria profunda

Maria Teresa Horta



Os silêncios da fala

São tantos

os silêncios da fala

De sede

De saliva

De suor


Silêncios de silex

no corpo do silêncio

Silêncios de vento

de mar

e de torpor


De amor

Depois, há as jarras

com rosas de silêncio


Os gemidos

nas camas

As ancas

O sabor


O silêncio que posto

em cima do silêncio

usurpa do silêncio o seu magro labor.



in Vozes e Olhares no Feminino, Edições Afrontamento,
Porto 2001, pp. 40, 41

De Sophia de Mello Breyner

Que nenhuma estrela queime o teu perfil
Que nenhum deus se lembre do teu nome
Que nem o vento passe onde tu passas.

Para ti criarei um dia puro
Livre como o vento e repetido
Como o florir das ondas ordenadas.

Tambem Eugenio de Andrade

Adeus

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.

Eugénio de Andrade, in “Poesia e Prosa”

Desde a Aurora

Como um sol de polpa escura
para levar à boca,
eis as mãos:
procuram-te desde o chão,

entre os veios do sono
e da memória procuram-te:
à vertigem do ar
abrem as portas:

vai entrar o vento ou o violento
aroma de uma candeia,
e subitamente a ferida
recomeça a sangrar:

é tempo de colher: a noite
iluminou-se bago a bago: vais surgir
para beber de um trago
como um grito contra o muro.

Sou eu, desde a aurora,
eu — a terra — que te procuro.

Eugénio de Andrade, in "Obscuro Domínio"


O Silêncio
Quando a ternura
parece já do seu ofício fatigada,

e o sono, a mais incerta barca,
inda demora,

quando azuis irrompem
os teus olhos

e procuram
nos meus navegação segura,

é que eu te falo das palavras
desamparadas e desertas,

pelo silêncio fascinadas.

Eugénio de Andrade, in "Obscuro Domínio"

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Piensa en mi - Luz Casal

Corpos com travo

O corpo, a nossa parte física e tristemente mortal, tem, em termos anatómicos,as mais diferentes formas, sendo que todos somos  bonitos ou feios em diferentes gradações.
Isto para falar da anatomia, do que perece, do que herdamos geneticamente,do que não podemos alterar.
Mas, como sabemos, nada é a preto e branco. Os belos que são belos, fisicamente,podem ser vazios de beleza interior e desesperadamente feios,ou mesmo repelentes. E os repelentes, físicamente,se  tocados pela "anima",pela beleza interior que lhes dá aquela faisca, aquela centelha espiritual e divina ,tornam-se afinal em seres bonitos seres humanos.
Depois, independentemente destas considerações, existem os cheiros e os sabores que todos os corpos têm. Há corpos a cheirar a tomilho, a alfazema a gengibre. Corpos leves e suaves com cheiro fresco de lavanda; Outros com uma mistura da pimenta e tangerina; Outros cheiram a farinha, a pão acabado de fazer,a erva calcada,a pétalas maceradas,a malte,a trigo ao sol....sei lá!
E há também corpos com diferentes sabores:
Uns sabem a mosto,a giesta,a sal,a algas,a pimenta de Kaena,a açúcar mascavado ,a rosas...
Comanda-nos o coração, na definição do travo. Coração que é alheio à razão,já que esta é cega e levar-nos-ia a definição exacta do travo, qual enólogo ou enófilo ao degustar um vinho. Mais doce, menos doce, mais frutado , menos frutado..
Não mais que isso.
Mas o coração, esse fantástico músculo que bombeia o nosso sangue e ao qual está, desde sempre, afecta a nossa capacidade de amar, esquadrinhada e não visível pela ciência, esse , dizia, define para sempre ,e irremediavelmente, o travo de um corpo que se beija e se quer.

Elegi como o melhor, não perguntem porquê, até porque o beijei de fugida, o travo , único, amargo e doce, de urze e mel.

Um poema belissimo da nossa Rosa Lobato Faria e outro ainda que tambem gostei

Quem me quiser há-de saber as conchas
a cantigas dos búzios e do mar.
Quem me quiser há-de saber as ondas
e a verde tentação de naufragar.

Quem me quiser há-de saber as fontes,
a laranjeira em flor, a cor do feno,
à saudade lilás que há nos poentes,
o cheiro de maçãs que há no Inverno.

Quem me quiser há-de saber a chuva
que põe colares de pérolas nos ombros
há-de saber os beijos e as uvas
há-de saber as asas e os pombos.

Quem me quiser há-de saber os medos
que passam nos abismos infinitos
a nudez clamorosa dos meus dedos
o salmo penitente dos meus gritos.

Quem me quiser há-de saber a espuma
em que sou turbilhão, subitamente
- Ou então não saber a coisa nenhuma
e embalar-me ao peito, simplesmente.

Rosa Lobato de Faria





Afirmas que brigamos. Que foi grave.
Que o que dissemos já não tem perdão.
Que vais deixar aí a tua chave
E vais à cave içar o teu malão.

Mas como destrinçar os nossos bens?
Que livro? Que lembranças? Que papel?
Os meus olhos, bem vês, és tu que os tens.
Não te devolvo – é minha – a tua pele.

Achei ali um sonho muito velho,
Não sei se o queres levar, já está no fio.
E o teu casaco roto, aquele vermelho
Que eu costumo vestir quando está frio?

E a planta que eu comprei e tu regavas?
E o sol que dá no quarto de manhã?
É meu o teu cachorro que eu tratava?
É teu o meu canteiro de hortelã?

A qual de nós pertence este destino?
Este beijo era meu? Ou já não era?
E o que faço das praias que não vimos?
Das marés que estão lá à nossa espera?

Dividimos ao meio as madrugadas?
E a falésia das tardes de Novembro?
E as sonatas que ouvimos de mãos dadas?

De quem é esta briga? Não me lembro.

(ROSA LOBATO DE FARIA)

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Gracias a la vida que me ha dado tanto!!!

É a minha canção, já o disse. E hoje, numa manhã chuvosa ,de um Fevereiro cinzento e  inquieto, eu canto!.Canto como se não houvesse amanhã. "Até que a voz me doa". Porque a vida é isto, este conjunto de pequenos nadas que nos vão ou amargurando ou transformando a vida num alegre canteiro florido.De amores-perfeitos, malmequeres? Sim , também! Mas  florido!!
Com as fibras do meu corpo estimuladas e vivas esta sou eu, quase intemporal  e menina a agradecer ao universo as benesses recebidas.
Obrigada vida que tanto me tens dado!  :)
E.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Poesia- alguns dos meus preferidos

Florbela Espanca está desde a minha adolescência no top dos poetas portugueses preferidos.Pela tristeza inata tão igual à minha, pela alma igualmente lacerada , por um intimo sentir tão semelhante, pelos sonhos e quimeras,até pelos nervos frágeis ,como "guisos de oiro" por tudo , mas sobretudo pela sua arte magistral de construir um soneto a ela devoto uma admiração enorme.

Por mim ,ficar-me-ei sempre por uns pobres poemas que envergonhada, mantenho, por ai guardados de olhares profanos.
Mas, como disse já, a par das telas que pouco a pouco se vão amontoando na minha casa e que tentarei também partilhar convosco , através de fotos, publicarei neste espaço alguns dos meus poemas favoritos.
Convencida que estou que "Ser poeta é ser mais Alto, é ser Maior..."


Sei lá! Sei lá! Eu sei lá bem
Quem sou? um fogo-fátuo, uma miragem...
Sou um reflexo...um canto de paisagem
Ou apenas cenário! Um vaivém

Como a sorte: hoje aqui, depois além!
Sei lá quem sou?Sei lá! Sou a roupagem
De um doido que partiu numa romagem
E nunca mais voltou! Eu sei lá quem!...

Sou um verme que um dia quis ser astro...
Uma estátua truncada de alabastro...
Uma chaga sangrenta do Senhor...

Sei lá quem sou?! Sei lá! Cumprindo os fados,
Num mundo de maldades e pecados,
Sou mais um mau, sou mais um pecador...

Florbela Espanca


Alma perdida


Toda esta noite o rouxinol chorou,
Gemeu, rezou, gritou perdidamente!
Alma de rouxinol, alma da gente,
Tu és, talvez, alguém que se finou!

Tu és, talvez, um sonho que passou,
Que se fundiu na Dor, suavemente...
Talvez sejas a alma, a alma doente
Dalguém que quis amar e nunca amou!

Toda a noite choraste... e eu chorei
Talvez porque, ao ouvir-te, adivinhei
Que ninguém é mais triste do que nós!

Contaste tanta coisa à noite calma,
Que eu pensei que tu eras a minh'alma
Que chorasse perdida em tua voz!...

Florbela Espanca



Eu ...

Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho,e desta sorte
Sou a crucificada ... a dolorida ...

Sombra de névoa ténue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...

Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!

Florbela Espanca



Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!

Florbela_Espanca




Ó minha terra na planície rasa,
Branca de sol e cal e de luar,
Minha terra que nunca viu o mar
Onde tenho o meu pão e a minha casa…

Minha terra de tardes sem uma asa,
Sem um bater de folha… a dormitar…
Meu anel de rubis a flamejar,
Minha terra mourisca a arder em brasa!

Minha terra onde meu irmão nasceu…
Aonde a mãe que eu tive e que morreu,
Foi moça e loira, amou e foi amada…

Truz… truz… truz… Eu não tenho onde me acoite,
Sou um pobre de longe, é quase noite…
Terra, quero dormir… dá-me pousada!

Florbela Espanca - Charneca Em Flor

domingo, 6 de fevereiro de 2011

As minhas escolhas para o Blog

Decidi abrir o leque de temas no meu blog. Claro que o tempo é muito escasso para proceder a remodelações e criar um espaço agradável de partilha de ideias, de imagens, sejam elas pintadas ou escritas. Se o tempo escasseia obviamente que tenho de confessar a bem da verdade, que o jeito para manusear as ferramentas do Blogger é muito fraco ou mesmo nulo. Portanto, como se pode ver facilmente há uma certa anarquia um certo caos reinantes. A promessa então de um arranjo que se impõe.
A poesia é outro dos meus fraquinhos embora me sinta absolutamente frustrada enquanto escritora. O que escrevo, é de sopetão e o que sai, nunca tem qualidade alguma. Claro que a falta de génio é que esta na origem da ausência de qualidade e não o tempo de fabrico do poema. De qualquer forma, poderá este espaço ser de partilha de gostos poéticos e pictóricos já que ambos se inserem na arte em sentido lato.
Vamos ver, então!

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Lila Downs canta Paloma negra

JOAN BAEZ "Gracias A La Vida" - Live

"Singular Feminino" A minha exposiçao em Miranda do Douro

Amigos ,colegas das Artes (os  Pessimistas e outros):




Obviamente que depois mando ou entrego os convites.É  um pouco longe mas voces sabem que apenas o dificil , morbidamente, me da alguma pica!Portanto ,se quiserem  comparecer é dia 4 do  proximo mes pelas 18 h.A  estalagem é optima.A Barragem, onde tantas vezes pesquei com o meu pai tem  um espaço para convivios  muito agradavel.Vamos a Miranda ver os Pauliteiros?

Exposiçao em Vila Viçosa dedicada a Florbela Espanca

Ja foi. Sem pompa ou circunstancia! De  5 até 19/12/2010 la esteve  patente a minha exposição,na  terra que viu nascer Florbela Espanca.
Uma vez mais , em homenagem á sua lira,à sua vida. Para que pelo menos quem a  visitasse ,se lembrar que foi em Vila Viçosa que nasceu e viveu esta estranha e sublime poetisa  cujo vibrar de alma produziu dos mais belos sonetos feitos em língua portuguesa..

Exposição em Vila Viçosa "Com Florbela Espanca"