quarta-feira, 20 de abril de 2011

Nossa Senhora- De Jose Regio

Acordei hoje, a silabar este poema belíssimo, que conheço desde os meus 15 ou 16 anos,porque inserida na "Selecta Literária", o meu manual de português, então.
Na altura,não havia "semanadas" e eu tinha apenas o que os meus pais, pessoas humildes, me podiam dar.Daí que li livros e livros da Biblioteca Itinerante Calouste Gulbenkian,pedia emprestado qualquer livro que visse na casa dos amigos e devorei a minha Selecta Literária. Alias conservei-a durante montes de anos, tamanho era o vinculo que criei com esse pesado e gordo livro.
Foi nele que conheci os mais belos poemas dos nossos maiores poetas.Foi aí que li este, do José Régio, que deixou uma marca tão profunda em mim que um dia me aventurei a meter as mãos em barro e a moldar uma nossa senhora por não poder ter uma que fosse de madeira..A minha Nossa Senhora , tinha uma ar angelical de frente mas de lado tinha um perfil de bruxa, e carregava ao colo um Menino Jesus com um rosto absolutamente , de símio, que eu, matreiramente, tentei disfarçar colocando-o sob o manto da Mae!!
Hoje já desisti de ter a minha Nossa senhora. Mas sei o poema de cor e salteado. Deixo-o aqui, para quem conhece e não conhece. Uma delicia!!
Para a próxima será a vez de Antero.
Vá la , leiam!!


Nossa Senhora


Tenho ao cimo da escada, de maneira
Que logo, entrando, os olhos me dão nela,
Uma Nossa Senhora de madeira,
Arrancada a um Calvário de Capela.

Põe as mãos com fervor e angústia.
O manto cobre-lhe a testa, os ombros, cai composto;
E uma expressão de febre e espanto
Quase lhe afeia o fino rosto.

Mãe de Deus, seus olhos enevoados
Olham, chorosos, fixos, muito além ...
E eu, ao passar, detenho os passos apressados,
Peço-lhe – “A Sua bênção, Mãe !”

Sim, fazemo-nos boa companhia
E não me assusta a Sua dor: quase me apraz
O Filho dessa Mãe nunca mais morre. Aleluia !
Só isto bastaria a me dar paz.

- “Porque choras, Mulher ?” – docemente a repreendo.
Mas à minh’alma, então, chega de longe a sua voz
Que eu bem entendo: -“Não é por Ele” ...
“Eu sei ! Teus filhos somos nós”.

José Régio

2 comentários:

Anónimo disse...

Deveria ter a análise do poema!

Eulalia Goncalves disse...

Nao sou suficientemente erudita mas de certeza que o/a Amigo/a é, e de certeza nos vai brindar com ela.