sexta-feira, 20 de maio de 2011

sem ti

E aqui me deixaste tu,
De olhos parados
nas corolas das flores.
Com as mãos lassas
Na seda dos lençóis
A mordiscar, ausente,
Os caules frágeis.

a respiração magoada
e nos olhos oblíquos
o brilho que fenece.

19/04/2011

segunda-feira, 16 de maio de 2011

De Florbela Espanca

VERSOS

Versos! Versos! Sei lá o que são versos…
Pedaços de sorriso, branca espuma,
Gargalhadas de luz. cantos dispersos,
Ou pétalas que caem uma a uma.

Versos!… Sei lá! Um verso é teu olhar,
Um verso é teu sorriso e os de Dante
Eram o seu amor a soluçar
Aos pés da sua estremecida amante!

Meus versos!… Sei eu lá também que são…
Sei lá! Sei lá!… Meu pobre coração
Partido em mil pedaços são talvez…

Versos! Versos! Sei lá o que são versos..
Meus soluços de dor que andam dispersos
Por este grande amor em que não crês!…

Florbela Espanca - Trocando olhares - 29/07/1916

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Almoço dos Antigos Alunos do Liceu de Bragança

Iam chegando aos poucos, alguns vindos de longe. Nas caras, onde o tempo lavrara já uns sulcos fininhos, brilhavam agora uns olhos que perderam, há muito o brilho de outrora, na alegria ansiosa de rever amigos de juventude.
Traziam, todos, embrulhos de ternura imensa, nas mãos inquietas; Os corpos, como os troncos das árvores, que vemos crescer, afoitas, na esperança dos dias, foram cedendo, ganhando dimensão, curvando com o tempo;
E nos cabelos, sobretudo dos homens, havia a brancura nostálgica, das toalhas de linho coradas ao sol.
As bocas, que soltaram insones palavras e risos e tiveram o viço orvalhado das rosas que se abrem na manhã, tinham agora uns sulcos curvos que lhes descaía ligeiramente as comissuras dos lábios….
Mas assim mesmo, riam, riam, alegremente riam.
E os abraços esses eram apertados , verdadeiros , calorosos! E um frémito perpassava, insubmisso e transversal, ondulando (in) visível pelo espaço que ocupavam.
Não havia nadas, não havia porquês; era tudo claro, transparente , autentico e completo.
Ontem o que foram, foram. Hoje é o que são. Vitoriosos, porque vivos. Eternos ,porque envoltos numa memoria liquida e olorosa que os torna incólumes,apesar dos anos.

Eulália Gonçalves

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Soneto de Joaquim Pessoa

Não foi Guevara, mãe, quem te rasgou
Com os punhais do frio pela manhã.
Foi quando eu te feri que um cão ladrou.
Das rosas veio um cheiro a hortelã!
.

Nos mastros adejavam as gaivotas.
Era Fevereiro. E a noite um pesadelo.
Da chuva que caía algumas gotas
Quiseram repousar no teu cabelo.
.

E eu nasci. No quarto ninguém estava.
À porta só a chuva é que teimava
Em molhar os lençóis da tua cama.
.

Não foi Guevara, mãe, quem tu pariste
Foi um grito do povo azul e triste
Na noite em que chorei luas de lama.

*

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Para quem estiver apaixonado...

..Tira-me a luz dos olhos - continuarei a ver-te
Tapa-me os ouvidos - continuarei a ouvir-te
E, mesmo sem pés, posso caminhar para ti
E, mesmo sem boca, posso chamar por ti.
Arranca-me os braços e tocar-te-ei com o meu coração como se fora com as mãos...
Despedaça-me o coração - e o meu cérebro baterá
E, mesmo que faças do meu cérebro uma fogueira,
Continuarei a trazer-te no meu sangue..."


R.M Rilke

segunda-feira, 2 de maio de 2011

A paz ou a guerra?


No dia em que se respira de alivio com o desaparecimento de Bin Laden(Deus que me perdoe mas eu respiro) será que vamos ver a pomba branca da paz ou vão acirrar-se muito mais as ofensivas da organização que chefiava??