sexta-feira, 6 de maio de 2011

Soneto de Joaquim Pessoa

Não foi Guevara, mãe, quem te rasgou
Com os punhais do frio pela manhã.
Foi quando eu te feri que um cão ladrou.
Das rosas veio um cheiro a hortelã!
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Nos mastros adejavam as gaivotas.
Era Fevereiro. E a noite um pesadelo.
Da chuva que caía algumas gotas
Quiseram repousar no teu cabelo.
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E eu nasci. No quarto ninguém estava.
À porta só a chuva é que teimava
Em molhar os lençóis da tua cama.
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Não foi Guevara, mãe, quem tu pariste
Foi um grito do povo azul e triste
Na noite em que chorei luas de lama.

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