quinta-feira, 24 de março de 2016

Páscoas!

 Brandamente, abeira-se de mim a nostalgia das minhas  Pascoas de menina e moça e a alma adoça-se-me no folhear de tao belas recordações. Eram dias únicos e ansiosamente esperados. Dias mágicos quer chovesse ou fizesse sol. Eram os dias do foguetório manhã cedo e ao sair do cortejo pelas ruas juncadas de ramos de alecrim e flores; Do vermelho das opas; Da sobrepeliz com rendas por cima da batina negra  do Padre Augusto, Do tilintar da campainha nas mãos de um miudo; Da cestinha com um pano nas mãos de outro, para recolher os bolos que lhe davam; Da mesa,coberta com a melhor toalha  para "receber o Senhor" , com  inefaveis amendoas , bolos e folar, o crucifixo com um Cristo de plastico dourado e o pratinho no meio  de tudo,com a nota de 20 escudos desdobrada; Das palavras: "Boa Pascoa nos dê Deus" que acompanhava o 1º passo  que o  homem que transportava a cruz dava ao transpor a porta da minha casa ; De nós , todos,de joelhos,  para beijar a cruz; Do Padre Augusto redondo e calvo a dizer as palavras ja ditas e reditas em outras casas , para de seguida atirar o corpo, ja com  uns setenta para cima  da velha arca da sala ,dando-lhe o merecido repouso após tão dura caminhada; Dos vestidos feitos pela minha mãe , novinhos, a estrear ; Do folar, muito amarelinho dos ovos caseiros.  Do riso , da simplicidade e ternuras.

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