terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

De Mª Teresa Horta

Poema sobre a recusa


Como é possível perder-te

sem nunca te ter achado

nem na polpa dos meus dedos

se ter formado o afago

sem termos sido a cidade

nem termos rasgado pedras

sem descobrirmos a cor

nem o interior da erva.



Como é possível perder-te

sem nunca te ter achado

minha raiva de ternura

meu ódio de conhecer-te

minha alegria profunda

Maria Teresa Horta



Os silêncios da fala

São tantos

os silêncios da fala

De sede

De saliva

De suor


Silêncios de silex

no corpo do silêncio

Silêncios de vento

de mar

e de torpor


De amor

Depois, há as jarras

com rosas de silêncio


Os gemidos

nas camas

As ancas

O sabor


O silêncio que posto

em cima do silêncio

usurpa do silêncio o seu magro labor.



in Vozes e Olhares no Feminino, Edições Afrontamento,
Porto 2001, pp. 40, 41

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