quinta-feira, 24 de março de 2016

Páscoas!

 Brandamente, abeira-se de mim a nostalgia das minhas  Pascoas de menina e moça e a alma adoça-se-me no folhear de tao belas recordações. Eram dias únicos e ansiosamente esperados. Dias mágicos quer chovesse ou fizesse sol. Eram os dias do foguetório manhã cedo e ao sair do cortejo pelas ruas juncadas de ramos de alecrim e flores; Do vermelho das opas; Da sobrepeliz com rendas por cima da batina negra  do Padre Augusto, Do tilintar da campainha nas mãos de um miudo; Da cestinha com um pano nas mãos de outro, para recolher os bolos que lhe davam; Da mesa,coberta com a melhor toalha  para "receber o Senhor" , com  inefaveis amendoas , bolos e folar, o crucifixo com um Cristo de plastico dourado e o pratinho no meio  de tudo,com a nota de 20 escudos desdobrada; Das palavras: "Boa Pascoa nos dê Deus" que acompanhava o 1º passo  que o  homem que transportava a cruz dava ao transpor a porta da minha casa ; De nós , todos,de joelhos,  para beijar a cruz; Do Padre Augusto redondo e calvo a dizer as palavras ja ditas e reditas em outras casas , para de seguida atirar o corpo, ja com  uns setenta para cima  da velha arca da sala ,dando-lhe o merecido repouso após tão dura caminhada; Dos vestidos feitos pela minha mãe , novinhos, a estrear ; Do folar, muito amarelinho dos ovos caseiros.  Do riso , da simplicidade e ternuras.

domingo, 20 de março de 2016

E por que nao um poema? É do meu bem-amado Torga e um bem-amado um dia mo enviou.

Pedido
 Ama-me sempre,
como à flor do lírio
 Bravo e sózinho,
a quem a gente quer
 Mesmo já seco na recordação.
 Ama-me sempre, cheia da certeza
 De que, lírio que sou da natureza,
 Na minha altura eu brotarei do chão.

 Miguel Torga, in 'Diário (1943)'

Aviso à navegaçao

Já há muito que nao tenho 61 anos como diz o "Sobre mim" que nao sei alterar, mas sim 64. E já agora, também já não tenho 1,68cm ,como com grande espanto meu me informou quem recentemente me tratou do cartao de cidadao. Pelos vistos meço apenas 1,65 o que significa que minguei 3 cm, com o passar dos anos. E por este andar vou morrer anã!!!

A minha "Amália" que faz parte da minha Exposiçao "Fado, Alma, Lusa Gente" ainda a decorrer na Casa da Beira Alta.

A Veces Llegan Cartas - Raphael

Não ou quase não. As cartas que agora chegam, recebo-as sempre com um ar de indisfarçado descontentamento, quando não, tristeza, aborrecida surpresa ou inquietação. Agora chegam ( muitos, muitos a entupir as caixas de correio electrónico), os mails. Onde ficou o prazer de receber uma carta?? Lá longe, longe, nos confins da memoria.De uma memoria suave com cheiros a baunilha e alfazema.Dopapel, a memória sensitiva e táctil de veludos já gastos pelo tempo. Brilhos nos olhos. Ou lágrimas. Mortes, nascimentos, saudades,zangas ,tristezas e alegrias,amores e desamores, tudo nos chegava dentro de um simples envelope em cujo interior vinha a carta em 2 pequenas páginas de papel de linhas e cor amarelada ou mais modernamente, uma só folha de papel que nao obedece a nenhum tamanho padrão agora em uso. Ou seja:Nem A4,nem A5, muito menos A3. Nao nego as saudades. Das cartas ou de um postal de correio. Tanto que um dia destes escrevo uma carta a alguém com a exigência expressa de ter de me "responder na volta do correio".

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Porque hoje é o dia 8 de Dezembro dia da Imaculada Conceição e de todas as Mães

É todo um mundo confuso de penetração difícil, tanto mais difícil quanto mais pretendo pô-lo claro, transparente. Não sei se houve primeiro lágrimas ou o som do harmónio. Em todo o caso lembro-me de duas casa - uma na Eira, outra no Adro. Sei que as lágrimas e as estrelas eram na casa da Eira e a música do harmónio na casa do Adro.
Minha mãe disse-me que nasci na casa do Adro, e só um pouco mais tarde, quando a família a abandonou de todo, nos mudámos para a casa da Eira. Ambas eram casas pequenas, térreas, com duas divisões, mais que suficientes para mãe e filho viverem. Ainda há poucos anos vi essas casitas onde eu e a minha mãe começámos a ser um do outro, e pareceram-me incrivelmente pequenas, mais pequenas que certas salas de brinquedos que os meninos ricos têm na cidade.
Em frente da porta de entrada havia uma arca enorme. Sei que nessas arcas arrumam os pobres tudo o que têm: a roupa do corpo, a roupa da cama, o milho para moer, o pão e faca embrulhados num pano linho grosseiro. Lembro-me do cheiro que sai da arca ao abrir - é um cheiro forte, são, de frutos naturais que a terra dá.
Ora um dia, quando me aproximei da arca - sabe-se lá para dar a entender a minha mãe que queria pão - estava lá em cima uma coisa que nunca tinha visto. Em bicos de pé, deitei-lhe a mão e puxei. Então o que aconteceu foi maravilhoso: de dentro saíu um som bonito, mais bonito ainda do que a voz de minha mãe, que certamente eu já ouvira cantar. E talvez não, talvez eu não tivesse ouvido ainda minha mãe a cantar. Minha mãe era nesse tempo uma mulher triste.
Da casa da Eira só me lembro do quartito que se seguia à cozinha. Um tabique separava-nos da casa da Ti Ana, uma velhota a quem a minha mãe às vezes me deixava a guardar. Foi nesse quarto que a minha mãe me ensinou a rezar:Senhora Sant`Ana,tapai-me cum véu,que sou pequenino,levai-me prò céu.
Mas eu gostava mais de me meter com a velhota do que das orações:- Ó Ti Ana! Ti Ana!Faça-me um favor!- Que é? - perguntava a boa mulher, fingindo ignorar a resposta:- Empreste-me a sua pele para fazer um tambor!Mas isso foi bastante depois. Antes das orações e das brincadeiras com a Ti Ana, lembro-me das lágrimas. Nunca mais voltei a chorar assim..
Certa manhã acordei sozinho em casa. Acordei a chorar. - Ó mãe, mãe... -Mas a mãe não vinha. Não havia mãe. Havia só porta fechada, - Ó mãe, mãe... - E a casa deserta. Pelas frinchas largas da porta via a manhã lá fora. Era uma manhã de sol quente talvez de Julho, talvez de Agosto. Devia haver medas de palha na eira em frente. Mas os meus olhos mal viam, estavam rasos de água e de angústia. - Ó mãe, mãe... - E de repente, na manhã clara, começaram a cair estrelas pequeninas, estrelas verdes, vermelhas, estrelas de oiro. As lágrimas caíam-me pela cara. - Ó mãe, mãe... - O nariz esmagado contra a porta, os olhos muito abertos, vendo através da frinchas as estrelas caindo, umas atrás das outras. - Ó mãe, mãe...
.

E ninguém me abriu a porta para apanhar as estrelas. Nem mesmo tu, mãe, que a essas horas andavas a ganhar o pão para a boca daquele que hoje te oferece estes versos."

Eugénio de Andrade


quinta-feira, 9 de abril de 2015

E por hoje fico por aqui. Um dia destes há mais!

Em Agosto  do ano passado no Castelo de Bragança. Onde eu me imagino a princesa que saiu da Torre!
 E muito muito mais...
 Mas para variar, a foto da minha Fiona quando era pequenina.. :)  Uma ternura !!

A rapariga dos Passaros

 Óleo S! Platex
90X60 cm

Perfeitamente ao acaso: Viagem no Expresso do Oriente e Maternidade


 Acrilico S/ tela

Continuo a pintar

É isso. Continuo a pintar, apesar de 2014 ter sido um ano pessimo com muitos e diversos problemas de saude. Mas pintei sempre. Umas vezes muito,outras menos, lá fui sempre pintando.Pelo prazer puro de o fazer , mas sabendo que era assim, ou antes, é assim que poderei crescer qualquer coisa, em termos técnicos e nao me deixar morrer em termos de sanidade mental. Nao tenho dinheiro para ter aulas, esta é a verdade pura e dura.Poderia agora, pois viria a talhe de foice, falar da politica horrorosa que vivemos e me levou a possibilidade de as ter, como qualquer artista que quer crescer enquanto tal. Mas não. Nao vou faze-lo, cansada que estou (e estamos) de politica, de comentadores politicos refastelados em brutais situaçoes economicas mas que falam ,falam e falam . Eu tambem se calhar nada diria pois que nada sei daqueles arrazoados de palavras estudadas e caras. Toda a gente sabe que sou uma mulher simples. Que pinta e gosta de poesia. Mais nada e é pouquinho. Vou começar ou recomeçar a colocar aqui as minhas pinturas, de uns tempos a esta parte. Prometo que sao bastantes !! :) Abraços